A gastronomia faz parte do Património Cultural Português e da matriz da Identidade alentejana.Na cozinha alentejana estão bem presentes os sabores associados à utilização dos produtos da natureza, que foram passados de geração em geração.
O Que é um Ganhão ?
Categoria de trabalhador agrícola cuja hierarquia difere de região para região. No distrito de Portalegre corresponde ao homem que se ocupa de serviços de lavoura não especializados, tais como; lavrar com bois, que são guardados e tratados por outro homem denominado “boieiro”; cavar moitas; carregar os molhos de cereal nos carros; etc. O Ganhão aqui é, por assim dizer, um trabalhador de pouca categoria que actua debaixo das ordens de um capataz conhecido por abegão. No distrito de Évora, chama-se Ganhão ao que no de Portalegre se dá o nome de abegão e designa-se por moço de lavoura o que nesse mesmo distrito de Portalegre se denomina Ganhão.”
Fonte:A.J. SARDINHA DE OLIVEIRA
Verbo Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura

Ganhões eram os moços da lavoura e de outros serviços, como cavas, acarretos, eiras, etc. A colectividade que os agrupava denominava-se por ganharia ou malta. Muitas vezes existiam rapazes de 14 a 16 anos, que só se consideravam ganhões depois de lavrarem toda uma época de uma sementeira outonal.
Entre os ganhões de uma casa havia duas categorias: os de “pensão” (anuais, que se acomodavam por muito tempo e que, por vezes, eram encarregados interinos) e os “rasos” (eram temporários, de poucos dias). O ganhão raso era simplesmente máquina de trabalho, ganhava pouco e era constantemente fiscalizado.
A “casinha dos Ganhões” era o dormitório, a casa de descanso dos ganhões ou dos moços da lavoura, que constituíam a ganharia. Como se pode supor, tem semelhanças com as casernas dos soldados. Na maioria dos casos era uma casa ampla que acomodava vinte a trinta homens. Todas elas tinham sempre uma lareira espaçosa, num dos cantos ou no centro, que era por eles designada de chaminé. As paredes eram caiadas de branco, mas na sua maior parte estavam enegrecidas do fumo da lareira. Era aí que se juntava a criadagem
nos serões, sentados nos burros (bancos rústicos de pernadas de azinheira) aquecendo-se e enxugando-se das chuvadas que sofriam durante o dia. As tarimbas erguiam-se em redor das paredes, formadas por leitos de carros velhos, portas inutilizadas, tábuas, etc., revestidas com rama de piorno, giesta e palha. A copa (vestuário), safões, chapéus, esteiras e calçado amontoavam-se, sem que mão bondosa se lembrasse de os arrumar. Mas para os ganhões estava tudo bem. O arranjo, a compostura e a limpeza eram para as mulheres e para as suas casitas de vila ou aldeia.
As noites eram divertidas. A maioria eram rapazes novos, cheios de vida e sem grandes preocupações. Faziam simulações de touradas, jogos de brincadeiras para logro dos novatos e dos mais velhos que, já cansados, rejuvenesciam e recordavam as partidas que eles mesmos já haviam feito e das quais tinham saudades. Noutras noites os papéis invertiam-se, eram os mais velhos que distraíam os mais novos, tomando ares de superioridade paternal. Propunham adivinhas, recitavam décimas, narravam contos e episódios de guerra ao ponto dos moços exclamarem:”Caramba rapazes! Sempre o tio fulano sabe muito!... É poço sem fundo! Não sei como lhe cabe na cabeça tanta coisa!!! Se fosse homem de letras era doutor!...''
Os Ganhões, grupo coral de Castro Verde,
durante a sua actuação no decorrer da Planicíe Mediterrânica