No ano 3000 a.C, a cortiça já era utilizada na China, no Egipto, na Babilónia e na Pérsia para fabrico de aparelhos destinados à pesca.
Em Itália encontraram-se vestígios datados do século IV a.C, de vários artefactos como bóias, tampas para tonéis, sapatos de mulher e telhados de casas.
Vinho e cortiça são dois produtos que há muito se complementam. Assim o prova uma ânfora datada do século I a.C e encontrada em Efeso: não só estava vedada com uma rolha de cortiça como ainda continha vinho.
Mais tarde, já no século I, o conhecido naturalista romano Plínio faz uma nova e extensa referência ao sobreiro na sua célebre História Natural. Explica que na Grécia este era adorado como símbolo da liberdade e da honra, razão pela qual só os sacerdotes o podiam cortar. Também na mesma obra pode ler-se que o sobreiro costumava ser consagrado ao Deus olímpico Júpiter e que as suas folhas e ramos serviam para coroar os atletas vencedores. Já em Pompeia, a cidade romana destruída pela brutal irrupção do Vesúvio, foram encontradas ânforas de vinhos vedadas com cortiça.
Portugal pode orgulhar-se de ter sido pioneiro em matéria de legislação ambiental, pois as primeiras leis agrárias que protegem os montados de sobro surgem no início do século XIII, em 1209. Mais tarde, durante as Descobertas, os construtores das naus e caravelas portuguesas que partiram à descoberta de novos mundos, utilizavam a madeira de sobreiro no fabrico das partes mais expostas às intempéries. Defendiam que o “sôvaro”, como então se dizia, era o que havia de melhor para o liame das naus: além de super resistente,jamais apodrecia.
Mas o princípio da exploração sistemática dos grandes sobreirais que caracterizam a Península Ibérica e que ainda hoje subsistem na Catalunha e em Portugal, só se dá a partir do século XVIII, quando a produção de rolhas de cortiça se torna o principal objectivo.
Durante o século XIX, a França, a Itália e a Tunísia resolvem aderir à exploração sistemática dos montados de sobro e países tão diferentes como a Rússia ou os Estados Unidos dão também início ao plantio destas árvores. Este será um século marcado pelo enorme desenvolvimento da indústria rolheira: no Reino Unido é patenteada a primeira máquina de fabricação de rolhas, surgem os novos equipamentos auxiliares como as máquinas para as contar e calibrar e, pela primeira vez, utilizam-se novas aplicações industriais para a cortiça como o aglomerado simples ou branco para parquet descoberto pelos americanos. Já nos últimos anos, em Reims, França, inicia-se o fabrico de rolhas de duas peças de cortiça natural coladas.
No século seguinte, a indústria corticeira dos vários países produtores investe cada vez mais em inovação e desenvolvimento lançando para o mercado produtos variados
. Alguns anos mais tarde, são registadas patentes para a utilização da cortiça em correias de transmissão e em pneus e, durante a Segunda Guerra Mundial, este material passa a ser utilizado em múltiplos equipamentos militares.
Nos anos cinquenta, uma empresa americana produz os primeiros ladrilhos de cortiça aglomerada para revestimento coberto com película vinílica.
Por fim, tudo indica que no século XXI, a cortiça voltará a gozar o respeito e a admiração que os gregos e os romanos lhe devotavam enquanto matéria-prima nobre e multifuncional
. Cada vez mais, novas gerações de artistas procuram criar objectos do quotidiano - artefactos de mesa, de cozinha, de lazer, mobiliário…- a partir de “frutos da terra”, materiais cem por cento naturais e que contribuam para a sustentabilidade ambiental.
Em Portugal, por exemplo, o aproveitamento das potencialidades da cortiça tem vindo a crescer de forma exponencial. Recentemente, foi apresentado ao mercado uma inovação absoluta: um banco de automóvel com o assento feito em cortiça que reduziu para metade o seu volume e tornou-o três vezes mais leve que os bancos tradicionais.
Produtos de cortiça